60 anos do golpe de 1964 e as pessoas LGBTI+
02 de Abril de 2024
O que ditadura e LGBTI+, dois temas que à primeira vista parecem guardar pouca relação entre si, têm em comum?
A ditadura não inventou a mentalidade conservadora que embalou parcela significativa da população brasileira na nossa história. Mas o golpe de 1964, que faz agora 60 anos, estruturou um aparato de repressão contra a diversidade sexual e de gênero.
Havia um objetivo moral para as violências cometidas. Pessoas eram vigiadas e suas práticas sexuais eram registradas em dossiês. Músicas, filmes, peças de teatro, novelas e programas de auditório foram vetados e impedidos de circular. Travestis, prostitutas e homossexuais, em número crescente nas grandes cidades, tornaram-se alvos privilegiados das operações policiais nas rua. Para os militares, a sexualidade passou a ser tema de segurança nacional.
Assim, o cerne das políticas sexuais da ditadura pretendia reforçar o estigma contra LGBTI+, “dessexualizando” o espaço público ao atirar para a invisibilidade corpos e coletivos que insistiam em reivindicar o reconhecimento de seus direitos e liberdades. Mas, onde há repressão as resistências não faltam.
Sob a ditadura, e apesar dela, boates, bares e espaços de sociabilidade LGBTI+ se multiplicavam. Enquanto se mantivessem nas sombras dos armários, ou no anonimato dos guetos, podiam se esquivar. Contudo, essa não era mais a realidade: estavam ocupando o espaço público, ostentando seu orgulho e buscando um lugar político na sociedade. Aliás, foi aí que o movimento LGBTI+ organizado deu seus primeiros passos.
Desde então muita coisa mudou. Direitos foram conquistados, políticas públicas implementadas e temos a maior Parada do Orgulho LGBT do mundo. Mas o Brasil ainda ocupa o topo do ranking internacional dos países que mais matam essas pessoas.
Semelhanças entre ontem e hoje evidenciam como a ditadura deixou um terreno fértil para que as práticas de abusos e violências contra LGBTI+ seguissem naturalizadas. Por isso é fundamental (re)visitar essa história que é, mais do que qualquer outra coisa, de orgulho e de resistências.
Renan Quinalha
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