O resultado das eleições nos EUA
08 de Novembro de 2024
Uma tragédia anunciada que saiu pior do que o esperado. Essa é a sensação da vitória de Trump nos EUA.
Por um lado, estamos anestesiados - e infelizmente já vacinados - sobre possíveis vitórias eleitorais da extrema-direita. Não há mais tanta surpresa. A lista vai ficando cada vez mais longa de Trumps, Bolsonaros e Mileis. De outro lado, a subjetividade calejada não neutraliza o gosto amargo das nossas derrotas e, mais do que isso, da nossa perplexidade e falta de horizonte.
O mundo parece caminhar com desejo e afinco pra catástrofes. De modo deliberado, mais ou menos e muito orgulhoso, multidões decidem nas urnas pelo ódio e pela autodestruição. São crises múltiplas e a político-eleitoral parece até a menor delas quando olhamos para a climática, a econômica e a humanitária.
O mundo em colapso e parece que só nós - setores progressistas - ficamos cuidando dos escombros da democracia liberal e suas instituições como se fossem fundação para um novo modo de vida. Cada vez mais somos convocados a solucionar uma crise cada vez menos nossa.
Mas talvez nessas brechas estreitas mesmo de resistência enquanto modo de vida é que vamos construir as alternativas possíveis e confabulando um projeto de emancipação mais radical. Nossos pactos pela vida, nossos laços de solidariedade, nossas políticas de alianças são o que nos restam e nos bastam. Nada está dado e nem será fácil, isso está evidente. Nenhuma cartilha do século XIX ou experiência exitosa de bem-estar social do século XX virá nos salvar de nós mesmos.
De qualquer forma, serão tempos ainda mais interessantes, pra parafrasear a bela autobiografia de Hobsbawn sobre o seu século XX. Tempos que exigirão coragem, cuidado e muita criatividade das nossas gerações. Temos feito coisas bonitas e promovido mudanças incríveis e impensáveis, o mundo não é só essa tragédia que o dia pós-derrota retumbante nos faz crer.
Por isso, um abraço apertado e carinhoso em todo mundo que hoje sente esse amargo. Não é nossa primeira derrota, não será a última. O importante é que sigamos com a sede e a esperança pra transformar esse mundo.
Renan Quinalha
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